quinta-feira, 10 de abril de 2014
'O país vai explodir em 2015', diz Arnaldo Jabor
Imagem: Reprodução/Expresso MT |
O jornalista
Arnaldo Jabor escreveu, em coluna no jornal O Globo, considerações a
respeito a atual situação do país, bem como predições a respeito do
futuro da política e da situação geral do Brasil. Leia abaixo e
manifeste sua opinião a respeito:
A incompetência
Tudo vai explodir em 2015, o ano da verdade feia de ver. O mal que essa gente faz ao país talvez demore muitos anos para se reverterNunca vi o Brasil tão esculhambado como hoje. Perdoem a palavra grosseira, mas não há outra para nos descrever. Já vi muito caos no país, desde o suicídio de Getúlio até o porre do Jânio Quadros largando o poder, vi a morte de Tancredo na hora de tomar posse, vi o país entregue ao Sarney, amante dos militares. Vi o fracasso do plano Cruzado, vi o escândalo do governo Collor, como uma maquete suja de nossos erros tradicionais, já vi a inflação a 80% num só mês, vi coisas que sempre nos deram a sensação fatalista de que a vaca iria docemente para o brejo, de que o Brasil sempre seria um país do futuro. Eu já senti aquele vento mórbido do atraso, o miasma que nos acompanha desde a Colônia, mas nunca vi o país assim. Parece uma calamidade pública sem bombeiros, parece um terremoto ignorado. Por que será? É óbvio que não é apenas o maluco governo do PT, mas também as marolas que ele espalha, os nós frouxos de uma política inédita no país que nem atam nem desatam.
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Aconselhada pelo PT, Graça Foster não irá ao Senado falar sobre a PetrobrasTudo vai muito além da tradicional incompetência que sempre tivemos. Dá até saudades. A incompetência de agora é ramificada, “risômica”, em teia, destrutiva, uma constelação de erros óbvios que eu nunca tinha visto.
No dia a dia, só vemos fracassos, obras que não terminam, maquiagem de números, roubalheiras infinitas e danosas, vemos o adiamento de tudo por causa das eleições. Tudo vai explodir em 2015, o ano da verdade feia de ver. O mal que essa gente faz ao país talvez demore muitos anos para se reverter.Mas, aqui, não quero falar de corrupção, burocracia, clientelismo e outras mazelas. Como é o rationale que usam para justificar o desmembramento do país que estão a executar? Quais são as principais neuroses da velha cabeça da esquerda, suas doenças infantis, etc.?Interessa ver o mapa do inconsciente petista. Interessa ver a incompetência dessa gente que conheço desde a adolescência, quando participava das infindáveis reuniões políticas para “mudar” o país —muito cigarro e a sensação de viver uma “missão profunda”. As discussões sem fim: “questão de ordem, companheiro!”, “o companheiro está numa posição revisionista”.Os fins eram magníficos, os diagnósticos tinham pontos corretos, mas no fim das madrugadas, alguém perguntava: “O que fazer?” (como queria Lenin...).Aí, todo mundo embatucava. Ninguém sabia nada. E tentavam agir, mas só apareciam erros desastrosos e a incapacidade de organização concreta; mas tudo era desculpado pela arrogância de quem se achava na “linha justa”. O povão era usado para a “boa” consciência, o povão era o salvo-conduto para a alma pacificada, sem culpas — o povão era nossa salvação.Pensávamos: Um dia eles serão “homens totais”, “sujeitos da História”, enquanto os mendigos vomitavam no meio-fio — os que a gente chamava com desprezo de “lumpens”.O ponto de partida da incompetência é se sentir competente. A incompetência atual é competente como nunca. O homem “bom” do partido não precisa estudar nem Marx nem nada, apenas derramar sua “missão” para o povo. Administrar é coisa de burguês, de capitalista. E dá trabalho, é chato pacas examinar estatística, analisar contratos da PTbrás, tarefas menores, indignas de líderes da utopia.Para eles, o Estado é o pai de tudo. Logo, o dinheiro público é deles, a empresa pública é deles, roubar é “desapropriar” a grana da burguesia.Os petistas se sentem “bons”. Eles são o “Bem”, e o resto é ou massa de manobra, a massa atrasada, ou “elementos neoliberais da direita”. Ser o Bem te absolve; é irresistível entrar para um partido assim.Outra doença infantil (ou senil) é a permanência de (não riam...) Hegel nas mentes da esquerda. O filósofo que formou Marx continua nos corações petistas. Por esse pensamento, qualquer erro é justificável por ser uma “contradição negativa”, ou seja, qualquer cagada (perdão) é o passo inicial para um acerto que virá, um dia.Como escreveu o filósofo Carlos Roberto Cirne Lima em “Depois de Hegel”, de 2006, Hegel tem a tendência muito forte de dizer que tudo que “é”, a rigor, tinha que ser. Hegel diz que, para entender a História, é preciso afastar a contingência. Hegel vai provocar o grande erro de Marx de que a História é inexorável e que, portanto, a revolução comunista é um momento da História que necessariamente vai acontecer. Esse é o primeiro grande erro de Hegel. E Cirne Lima reclama: “Nenhum lógico lê nosso trabalho porque ele trata de Hegel, e nenhum hegeliano o lê porque é lógica”.Assim, organiza-se a burrice, a estupidez (falo do “id” petista), a negação de qualquer facticidade, a adoção só de ideias gerais, dedutivas, o desejo de fazer o mundo caber num ideário superado (aufheben). Daí a desconfiança no mercado, nos empreendedores, contra todos que trabalham indutivamente, com o mistério das coisas singulares no centro da sociedade civil, que eles veem como uma anomalia atrapalhando o Estado. Os esquerdistas se sentem parte de uma dinastia desde Stalin — as palavras e os conceitos ainda são usados. E, como no tempo do Grande Irmão, há o desejo de apagamento do sujeito, ou seja, nem a morte tem importância para sujeitos que viram objetos. Vide Coreia. Até o assassinato pode ser absolvido como uma necessidade histórica.
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Um dia, um
companheiro (que morreu há pouco) me disse: “Não tema a morte. Marx
disse que somos seres sociais. O indivíduo é uma ilusão. Para o
comunista a morte não existe”. E eu sonhei com a vida eterna.
Essas são
algumas das doenças mentais que estão levando o Brasil para um pântano
institucional. Temos que nos salvar desse determinismo suicida.
Se houver a
vitória de Dilma ou a volta de Lula, estaremos, como diria Hegel,
fo&#*¨%s — numa “contradição negativa” que vai durar décadas para
ser “superada”.
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